2 de janeiro de 2012

Não tinha nada para escrever...


As vezes dano a escrever. Despeço das palavras, e as solto e deixo ir com uma brisa qualquer. A primeira brisa, carregadora de idéias. Mas ai me vem um vazio. Esse vazio, meu Deus, esse não haver. Essa falta que me faz não ter as palavras, outrora desperdiçadas. Então fico oco.
Volto e leio o que já escrevi, vem então uma angustia de querer tudo apagado, tudo desfeito. Sinto-me envergonhado, curvado a essa angustia de nunca chegar ao ponto onde quero estar. Será que esse caminho é mesmo regado a palavras? E o vazio, e a face disfarçando o medo. Fico assim, de queixo trêmulo.
Pulo a linha, tenho comichões no corpo inteiro, tenho dor de cabeça e pulsações no lombo. Isso parece-me, enfim, coisa da carne. Reclamando, pedindo, suplicando por descaso. Mas meus olhos, teimosas janelas abertas, não querem se fechar! E não se fecham, ainda que eu mande ou ordene. Eles não se fecham. Não se entregam. A batalha, por si só, persiste. As dores, as insônias, os vazios, as horas... Quem vence? Adoraria saber. Daria um reino inteiro para saber, na verdade. Porque eu, quando me achei mais forte, me vi espectador de tudo. Apenas uma alma dentro de um corpo em guerra, assistindo a tudo. Esperando que um lado ceda antes que seja tarde demais.
Um dia será tarde demais. De repente, os dois lados desse escritor cairão, exaustos da batalha. Pedirão desculpas um ao outro.  Deixarão os ressentimentos, as atrocidades cometidas, e o maldizer dito antes, de lado. Haverão de se unir, em comunhão. E nesse dia, a alma que antes só assistia, perde o interesse. Entediada, deixa a arquibancada vazia, se estende ao mundo e parte. Se vai...

6 de novembro de 2011

Sobre os pequenos Tsurus



São azuis, os Tsurus. E são seis no total. Penduram-se em três linhas finas, também azuis, separados por estrelas de cristal e pedacinhos quadrados de espelho. Se prendem a um globo de papel, uma pequena luminária em dobradura no mais perfeito estilo japonês. Agora enfeitam a luminária do meu quarto, e sendo eles (na melhor explicação que ouvi) furta cor, refletem e aumentam a luz pelo quarto inteiro. São mágicos, esses passarinhos, é preciso ver para crer.
Há qualquer coisas de místico nos Tsurus. Certa vez escrevi uma história a respeito de uma garota chamada Nalu, que viajava em seu mundo de imaginação a bordo de um Tsuru voador e gigante, porque sinto que a magia que neles contém contempla todo o imaginário da gente. Mas existe uma lenda específica sobre os Tsurus. A lenda diz que aquele que fizer mil Tsurus terá um desejo concedido e consumado. E que certa vez uma pequena garota mobilizou toda uma cidade no Japão para que fosse curada de uma enfermidade. São mágicos, como eu disse. E são lindos.
Agora fico olhando esse bibelô pendurado em meu quarto, cheio de um significado além de histórias e lendas. Não apenas por serem palpáveis, mas por serem um presente, que ganhei de outros dois presentes que Deus me deu: duas amigas. Para elas, e para os Tsurus, escrevo hoje.
É fato a vida não é fácil, e isso não precisa nem mesmo ser escrito para ser verdade. Só o ato de nascer em si é tão traumatizante que nem ao menos somos capazes de lembrar. Mas viver é doce, é aventura e prazer. Há prazer em nossas obrigações, e nos dramas e confusões que vivemos.
Durante o longo percurso da vida, nos deparamos com pessoas que, em pouco tempo, são capazes de nos cativar. Nos levam a bordo de suas vidas, e se tornam tripulantes das nossas. Nos ajudam, nos machucam, nos alegram. Nos magoam. E nos amam. E a quem amamos, de fato. Essas pessoas são tão mágicas quanto os Tsurus, e são chamadas de amigos. Só que não precisamos de mil amigos para ter um desejo realizado, muitas vezes basta apenas um. Vejam só o quão sortudo eu sou: ganhei seis Tsurus e duas amigas. A felicidade é tanta que nem preciso de um desejo pra realizar, tenho dois que já vieram realizados: Audrey e Roberta. Obrigado garotas, pelos Tsurus e pelo carinho. Sinto-me tão feliz, que posso conceder um desejo a cada uma (no limite de minha possibilidade humana!).

Felipe... “Os pássaros são livres, mas sempre voltam para o lugar onde cantam mais felizes...”

29 de outubro de 2011

Não Aceitamos Devolução



Estive pensando em termino de relação. Não que eu esteja vivendo esse momento, mas pessoas próximas de mim estão. E isso envolve a todos, mesmo aqueles que nunca ao menos estiveram em contato com os dois lados da moeda. Terminar um relacionamento requer, acima de tudo, paciência. Virão momentos de tristeza, de alívio, de ponderação e até mesmo pontadas de raiva. Mas não há hora pior do que a devolução.
Deveria ser um ultraje, ou algo parecido. Pelo menos eu desejo assim: todas as coisinhas, presentes, fotos, cartas e bibelôs postos em uma ou duas caixas (ou sacos de lixo, pra ser mais dramático). Depois, um olhar de desapontamento e um adeus definitivo. E aquele segundo de silêncio que diz nas entrelinhas “Nada de você têm utilidade pra mim”. Pronto, está terminada a devolução.
E logo em seguida, cabe a cada um seu período de reciclagem. Vão se desempacotando as coisas, redescobrindo tudo e acobertando o resto. Aquele cd ficou pra trás. A correntinha de ouro e o camafeu não valem mais nada. E a aliança, bom, melhor penhorar. Mas os sentimentos ficam presos... Ficam pendurados nas orelhas, como brincos. E ali, sussurram os erros, os acertos, os bons e os maus momentos. E assim permanecem, por mais tempo do que deveriam. Afinal, os sentimentos não podem ser devolvidos, ou não?
Talvez essa seja a solução. A devolução e a reciclagem se estendem aos sentimentos acumulados durante o relacionamento. Precisam ser dedilhados, revisados e reutilizados ou descartados. Cada tesouro que se perde fica com um gosto de perda mesmo. E esse azedume é que incomoda. Não pelo fato de perder algo, mas por nunca mais tê-lo. Bom, no final, é preciso tomar ciência daquilo que não queremos perder, pra poder encontrar em outra pessoa, em outro momento. Porque reciclado, o sentimento também fica novo.
Desse modo, o que sobra é o que não faz falta. O ronco perturbador vai pro lixo com a foto na beira da praia. A voz infantilizada é rejeitada junto ao anjinho de porcelana. O que era só enfeite vai embora com os defeitos. E o que fica, é novo e pertence. É resiliência, como ferro fundido que se transforma em espada.

 Felipe... "Nada do que foi será de novo do jeito qe já foi um dia..."

19 de outubro de 2011

Paralelos


-Você está linda.
“Namorado”
-Vamos assistir ao jogo de futebol...
“Amigo”
-(...) e eu comprei esse vinho pra brindar...
“Namorado”
-Vai dizer que a Juliana Paes não é gostosa?
“Amigo”
-Mas você é melhor que ela
“Namorado... e mentiroso”
-É sério que você curte esse scarpam rosa?
“Amigo... e gay”
-Quando você me beija...
“Namorado”
-Ai, besta...
“Amigo”
-To com saudade do meu quentinho.
“Namorado”
-:-)
“Amigo... e palhaço”
-Eu te amo...
 ...

Nem sempre dá pra distinguir!


Felipe... um ser humano é o meu amor... De músculos, de carne, osso, pele e cor...

15 de outubro de 2011

Engula Sapos...


 
         Nem tudo na vida são flores. Tudo bem, sei que já ouvi isso antes, e diversas vezes. É que tenho certa dificuldade em aprender antigas lições. Como quando se diz que de amor não se morre. Ou que gato escaldado tem medo de água fria. Todos esses clichês as vezes precisam ser lembrados, porque facilmente são esquecidos.
         Nada é tão fácil que não exija em si o mínimo de esforço. Até para respirar se movem os músculos. E disso sabemos, porque vivemos, mas nunca questionamos. Só precisamos de respostas para questões difíceis. As fáceis já vêm respondidas, ou não? Em nível de exemplo (e que nesse momento, me vem bem a calhar) é a questão do respeito. O que é isso: um conjunto de ações que tem por fim a facilitação da convivência, ou a necessidade do ego de se manter intacto?
         O que me aconteceu para quedar tal filosofia foi que, sem que eu esperasse, me faltaram com a educação. E meu ego (ah, o Ego!) se rebelou. Eu quis gritar, quis morder e despender socos e pontapés. Mas na hora (e como tenho aprendido nesses últimos vinte e um anos) preferi esperar minha raiva esfriar. Acreditem, fica mais fácil digerir raiva quando fria, simplesmente pelo fato de que assim se pode refletir sobre o prato. A raiva vira culpa se não for bem digerida.
         O fato foi que, no fim das contas, percebi que tamanho desrespeito direcionado a mim era nada mais era que um ato de agredir meu ego. E por isso eu quis me vingar. Sabe o ego? As vezes ele está errado. Nem tudo que fazemos, ou queremos, é de fato bom. Nem sempre nossas convicções são exatas e dogmáticas.  
O que me remete a pensar em todas as experiências repetitivas que se passam em nossa vida. Todos os amores não correspondidos, todos os empregos abandonados, todos os cursos incompletos, todas as brigas no transporte público. Tudo que já fizemos (e que ainda faremos) são atos repetidos aleatoriamente, e sobre os quais nunca mudamos nossa postura. Os anos de tamanha repetição servem, no fim, para que possamos amadurecer. O que ontem com certeza foi um ato de desrespeito, hoje é uma crítica. Quem sabe o que será depois, quando meus olhos vestirem o amanhã?
         As vezes é preciso engolir sapos. Ninguém é mal educado por natureza, toda ação tem início, e por vezes se inicia em nós. Fica sendo assim então, fácil é ser mal educado, difícil é assumir. Percebo que aquele momento onde me faltaram com respeito foi devido a minha própria inconveniência. E isso dói. Mas prefiro admitir a deixar o dito pelo não dito.
Se permitisse ao Ego a cegueira da falta de humildade, a culpa ficaria sem dono, e os sujeitos entrariam em conflitos por não compreenderem um ao outro. Não digo para amar aos seus inimigos, ou pedir perdão para cada falha que se iniciar em você. O conselho que dou é mais simples: engula sapos, e arrote flores. A educação já foi esquecida há tempos... 

Felipe... Tava com saudade disso...